*Prof. Jadir
Pereira
Salve caro leitor!
A
partir de hoje contribuirei com uma pequena coluna do blog Leitura e Produção de Texto em Língua Portuguesa, trazendo curiosidades do universo das
palavras e das coisas. Afinal de contas já dizia um dos poetas mais nerd e querido da nossa literatura,
Carlos Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras […] Chega mais perto
e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra”.
Sigamos então o mestre, a começar por contemplar uma das faces secretas da palavra
palavra.
O
termo “palavra” deriva do grego παραβολή (parabolé)
formado da junção da preposição para,
que significa “ao lado de”, mais a raiz bal-,
com o significado fundamental de lançar, atirar, como no verbo gr. ballo (lançar, atirar). Portanto, parabolé
tem o sentindo de “jogar ou lançar ao
lado de”, e, por extensão, “comparação”, “figura”, “parábola”. Outros derivados
desta palavra são os cognatos: it. parola e parlare; fr. parole
e parler; esp. palabra e parlar e o pt. palavrear, parlar, parolar. Possuem a raiz bal- os termos diabolos (diabo), com o sentido de caluniador, parabolé (parábola), comparação; symbolon (símbolo), sinal de reconhecimento.
O
termo em latim clássico que designava palavra é uerbum, oriundo do indo-europeu werdh-.
Esta raiz sobrevive no inglês word
(palavra); no alemão Wort (palavra);
no letão vārds (palavra).
No português o termo verbo designa palavra
com o sentido mais frequente de uma ação. A Vulgata
(João I, 1) traz a seguinte tradução da Septuaginta:
“In principio
erat Verbum et Verbum erat apud Deum et Deus erat Verbum” (No
princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus). A criação do
universo resulta da palavra de Deus tal como descreve o livro de Gênesis 1:3: “dixitque Deus fiat lux et facta est lux" (Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita). Portanto, a
cosmogonia judaico-cristã aceita a palavra, isto é, o som, como elemento imprescindível
para a gênese do universo. Na Mitologia Hindu, o deus Shiva (re)cria o universo
a partir do damaru, um tambor em forma de ampulheta que representa o som da
criação do universo. Através das batidas do tambor, Shiva controla o ritmo do universo e o
compasso da sua dança. Reza a lenda que, quando Shiva deixa de produzir o som,
o universo se desfaz. Nas antigas epopeias gregas, a palavra é considerada sagrada, divina, por isso, para que o
poeta construa seus versos memoráveis, é necessário evocar o poder das musas.
Como se pôde ver, há muitos mistérios
que rondam as palavras. Que tal utilizar o poder das palavras e produzir o seu
próprio universo, isto é, o seu próprio texto? Eu acabo de construir o meu.
*Professor de Latim e Mitologia da Universidade Federal de Alagoas
Maravilha! Vou ali construir meu universo! :)
ResponderExcluirMuito obrigado por mais esta aula.
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